segunda-feira, 21 de março de 2011

O Lava-Pés e os Sacramentos da Penitência (Confissão) e da Eucaristia

Dentre os evangelistas, o lava-pés é narrado apenas por São João:

              5Em seguida, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. 6Chegou a Simão Pedro. Mas Pedro lhe disse: “Senhor, queres lavar-me os pés!...” 7Respondeu-lhe Jesus: “O que faço não compreendes agora, mas compreendê-lo-ás em breve” [...] 14Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros. 15Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós. (João, 13)
(grifos nossos)

            É muito comum ouvirmos admoestações sobre o grande exemplo de simplicidade demonstrada por Jesus Cristo quando Ele lavou os pés dos apóstolos antes da instituição da Santíssima Eucaristia.
            
           Mas há alguns significados bem mais profundos que Jesus quis nos transmitir com este ato narrado exclusivamente por São João. E é o próprio Jesus que nos explica a profundidade de tal significado:

A vós Eu vos lavei os pés, a parte mais baixa do corpo, e que vai da lama para a poeira, [...]
Portanto, Eu vos laveis os pés. Quando? Antes de repartir o pão e o vinho, de transubstanciá-los no meu Corpo e no meu Sangue. Por que? Porque Eu sou o Cordeiro de Deus, e não posso descer onde Satanás tem o seu sinal. Por isso é que antes Eu vos lavei. Por Mim mesmo fui entregue a vós. Também vós lavareis com o Batismo àqueles que virão a Mim, para que não recebam indignamente meu Corpo, e este não se mude para eles em uma tremenda condenação à morte. (VALTORTA, Maria. O Evangelho como me foi revelado. Isola del Liri - Itália: Centro Editoriale Valtortiano, 2002, v. 10, p. 380-381). (grifos nossos)

Profundo, pois, o completo significado do lava-pés, significado que Jesus já prenunciava no  Evangelho de São João: “O que faço não compreendes agora, mas compreendê-lo-ás em breve”. É bem mais que a mensagem de humildade tão propalada na Semana Santa. 

            O ato de Jesus chama atenção para a sacralidade da Eucaristia, deixando clara a necessidade de nos purificarmos de nossos pecados antes de participarmos da Ceia do Senhor. Tal purificação se dá através de outro Sacramento: a Confissão, Penitência ou Reconciliação, cujo exercício foi confiado ao ministério apostólico.

            A Bíblia é transparente nesse sentido:

Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós. (João, 13, 14-15)

Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos. (João, 20,23)

E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus. (Mateus, 16, 18-19) 

Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo, por Cristo, e nos confiou o ministério desta reconciliação. Porque é Deus que, em Cristo, reconciliava consigo o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação. Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus! (2Cor 5,18-20)     
           
O ato de lavar os pés dos apóstolos está, portanto, intimamente relacionado a dois SACRAMENTOS instituídos por Jesus Cristo: o Sacramento da Eucaristia, onde há a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo, no Sangue, na Alma e na Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo (o mais sublime de todos os sacramentos), e o Sacramento da Confissão (Penitência), destinado a restabelecer a graça que os batizados perdem quando cometem um pecado mortal, graça, esta, conquistada por um  alto preço: pelo Sacrifício do Cordeiro de Deus. 

            O Catecismo ensina que a confissão pessoal, individual, é, em regra, obrigatória à remissão dos pecados mortais, admitindo-se a confissão comunitária apenas em casos extremos, de grave e próximo perigo de morte, quando esteja impossibilitada a confissão pessoal (na II Guerra Mundial, por exemplo, o Papa Pio XII permitiu que a absolvição coletiva fosse dada a grupos de soldados que partiam imediatamente para a batalha, sem tempo para se confessar) (sobre a questão ver parágrafos 1482 a 1484 do Catecismo da Igreja Católica).

            Com efeito, foi Jesus, o Supremo Sacerdote, quem lavou os pés dos apóstolos, confiando aos mesmos tal ministério. “Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (João, 20,23).

            Mas a Misericórdia Divina é infinita, e não nega o perdão a quem, privado da confissão ou diante de condições extremas, se arrepender de seus pecados e pedir o perdão a Deus. 

            Assim, peçamos a Deus que cresça em nós, e nos Sacerdotes de nossa Igreja, o devido zelo para com o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, que, dentre os seus frutos, traz o ódio ao pecado e a sede pela reconciliação.

            Que Deus abençoe a todos!

Francisco José

Um comentário:

  1. Ontem eu estava lendo o Evangelho de São João e tive esta mesma interpretação do lava-pés com o sacramento da reconciliação, antes só relacionava com a humildade de Jesus... e buscando algum texto encontrei o seu excelente blog. Vou republicar, ok? com os devidos créditos... um abraço e fique com Deus.

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